Por que o desprezo pela Seleção Brasileira?

Coluna Iomar Japonês – Sugiro que tentemos aprofundar o debate e fugir de respostas fáceis: por que a seleção não desperta o mesmo interesse de há 20 e poucos anos atrás? Por que muita gente prefere um rival, como a Argentina, por exemplo? Por que reclamam quando jogadores de seus clubes são convocados?

A mesma Confederação Brasileira de Futebol (CBF), desde que repassou o direito de negociar os jogos da seleção para empresas de marketing esportivo, que passaram a levar a maioria dos amistosos para o exterior, afastou o torcedor (entre 2000 e 2019, foram disputados 135 amistosos, dos quais 112 no exterior). Ainda assim, quando joga em território nacional, o preço é muito alto, proibitivo.

O inchaço do calendário, que recebe cada vez mais jogos e impede que haja, por exemplo, uma pré-temporada minimamente decente. Diferentemente do que acontece na Europa, o futebol daqui não vai parar durante a competições de seleções. “Ah, quando há jogo da seleção, os clubes não jogam”. Sim, jogam, mas no dia seguinte. Então, desfalques irão ocorrer do mesmo jeito.

Outro ponto que traz chateação é o chamado “vírus-FIFA (lesões ocorridas em jogos das seleções), essa ideia rasa que tenta convencer que os jogos entre selecionados, e não esse monte de competições de clubes, são os excedentes. Outros pontos que me escapam podem e devem ser considerados para ajudar e explicar esse afastamento.

Nesse sentido, o período sem títulos nas Copas do Mundo diminui o interesse do torcedor que aprendeu que só quem vence é digno de respeito e os outros são um bando de fracassados. Não basta ganhar outras competições, como as continentais ou a Olimpíada, tem que ser o dono do mundo. Agora vamos igualar os 24 anos sem título mundial, como ficou entre 1970 à 1994, e em 2026 ficamos nessa espera do ciclo encerrado em 2002.

A popularização das ligas estrangeiras também causa consequências no nível do nosso jogo, como se fosse simples concorrer com o que é feito na Europa. É como querer construir uma casa a partir do teto. Hoje, meia dúzia de jogos “bastam” para definir se fulano ou cicrano servem, e normalmente não servem.

Aí, criamos outro tipo de torcedor: o que torce pelo seu jogador preferido e leva muita gente para onde for. Messi e Cristiano Ronaldo – e Neymar também bateu aí – são os expoentes dessa modalidade. Notem quantas camisas do Inter de Miami e do Al Nassr estão sendo expostas por aí, sobretudo nas crianças. E isso acaba refletindo também no futebol de seleções.

Ao cabo, os candidatos a ídolos brasileiros não esquentam lugar, nem criam laços com clubes daqui, e muita gente não se sente representada, nem é brasileira “com muito orgulho, com muito amor”. E no fundo, todos somos responsáveis por isso.

Coluna Iomar Japonês

*Coluna publicada todos os domingos no Portal Willian D’Ângelo

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